sexta-feira, 7 de outubro de 2011



Porque eu uso uma força filha da puta pra não te ligar de cinco em cinco minutos pra dizer ‘oi, você já acordou?’. Já que me engano pensando que você ainda não veio me buscar de avião pra fugir deste planeta cafona e solitário, só porque ontem foi dormir cansado demais e ainda está dormindo.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vai passar

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...

do Caio

sexta-feira, 8 de abril de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011


Zé: Vortô pra ficá, né?

Maria: Não, acho que minha sina é sempre caminhá...

Zé: Tu carece é de criar raíz minina!

Maria: Num fala assim Zé, eu sinto que andei, andei, andei e num cheguei a lurgá nenhum, sinto que um tanto de coisa eu perdi e um tanto de coisa eu num consegui achar... Viver é assim mermo Zé? Essa coisa doida que muda sempre? A separação de quem a gente quer? Andança sem parar Zé? Parece tudo sonho. Viver é isso Zé? E o amor Zé, quando é de verdade? E felicidade Zé, quando é de verdade?

Zé: Ói, a felicidade é o contrario do amor né? A felicidade...

Maria: E na vida Zé, o que vem depois da morte?

Zé: Num sei. A gente só sabe perguntá, num sabe responder não...

Maria: Acho que meu destino é sempre fazer o caminho de vorta. Adeus Zé!

Zé: Mas será pussivi minina qui nossa sina seja sempre se dispidi?

Maria: É não Zé! Nossa sina é sempre se incontrá.

terça-feira, 5 de abril de 2011


Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido freqüente demais, até mesmo um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar. 

do Caio.













P.S: Andar não, correr! Pelo menos quando eu corro, e como se fosse só eu no mundo, isso ajuda!!!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Eu não sei bem o que eu queria da minha vida agora, a única coisa que eu tenho a certeza é que eu não queria estar aqui. Não me sinto bem em nenhum lugar, ao lado de ninguém e nem tratando de nenhum assunto. Eu vejo as folhas do calendário voarem a uma velocidade assustadora e eu, bem, eu não tenho forças nem argumentos para implorar que esperem um pouco mais. Não consigo considerar se me falta algo ou alguém, mas sei que tem alguma coisa errada. Esses dias estão me esmagando cruelmente, vontade de sumir pra longe de todos e soltar o meu mais profundo choro. Por que? Ah, não sei. Penso que esta seja a minha maior angústia. Não saber o que quero e o que tenho que tanto me atormenta. Vou tentar, embora em todas as tentativas não tenha funcionado, dormirei tarde e acordarei mais tarde ainda. Não creio que mereço ver o dia com tanta insegurança no coração.



Parece incrível, mas só temos a capacidade de olharmos nossa vida, quando tudo vai mal, não é mesmo? Decidi pesar meus atos e infelizmente não tive um bom resultado. Muitas vezes o que vinha acontecendo estava me deixando mal e eu simplemente aceitava. Finalmente me dei conta que os problemas são meus e ninguém além de mim pode encontrar soluções. Eu que por muito tempo esqueci que existo, me abandonei e deixei as coisas tomarem qualquer rumo, ou até mesmo nenhum, mas deixei. De uma coisa eu tive certeza: tudo o que eu vinha fazendo pela metade, me davam duas respostas, ou um enorme vazio, ou pior, eu também recebia pela metade. Nunca é bom receber um bom dia forçado, um oi sem vontade, qualquer coisa que você note que não tem boa intenção. Daí surge o problema, tudo o que eu mais odeio, é o que mais faço. Não é por querer, mas talvez até seja, mas prefiro acreditar que me acomodei e que seja muito difícil sair disso, entende?

Elen S. Alencar